Consigo escutar a voz de minha mãe no corredor do hospital. Sinto que está preocupada ao me ver deitado na maca. Nesse momento, nada mais importa, eu agora vejo com clareza as coisas que antes se escondiam na escuridão. Como que eu tive capacidade de fazer isso? Arriscar tudo, por nada. Não queria acabar com minha vida, mas sim tirar a minha dor, recomeçar. Nunca imaginei que poderia pausar e, eu, começar a escrever minha história, não deixar o ódio tomar frente.
Achava que essa era a solução para todos os meus problemas. Olhava-me no espelho, mas não me via. Escrevia meus pensamentos, mas não eram meus. Eu não era mais o Inácio. Coloquei-me de lado, não conseguia olhar para meu passado sem querer fugir dele. Na minha cabeça, não existia outra maneira de me encontrar novamente. Meu corpo já tinha sido tomado pela angústia. Eu tinha que acabar com aquele sofrimento.
Lembro-me exatamente de cada sensação que experienciei. Estava com medo. Não pensava em mais nada, além do peso que estava carregando em minha rotina. Subi até o último andar do apartamento em que moro. Oito andares. Cada andar que passava no elevador, me convencia mais ainda de que minha decisão era a certa. Cheguei na cobertura. Estava um dia ensolarado, cheio de vida, mas eu não conseguia enxergar isso. Única coisa que me passava na mente era que o mundo estava sorrindo, feliz com o ato que eu estava prestes a praticar. A leve brisa suavemente tocando minha pele. O frio na barriga ao olhar para baixo. Não sentia minhas pernas. O medo circulando meu corpo. Não vejo ninguém embaixo. Pulo. Não vejo mais nada. Escuro.
Ao cair, vi todas as tragédias de meu passado soltando-se do meu corpo. Eu, um menino adotado, abandonado pela família biológica no hospital, que nasceu prematuro, com problemas respiratórios e coronários. Tive uma infância nada ortodoxa, envolvido sempre com médicos e psicólogos. Agora estava me sentindo mais leve. Quando cheguei ao chão, pensava que já tinha acabado e que tinha me livrado dos meus problemas, mas não. Ao toque no chão, meu passado me alcançou, me senti pesado. Apaguei.
Após esse acontecimento, não me lembro de muita coisa. Como eu vim parar nessa maca? Como que ainda estou vivo? Por quanto tempo fiquei apagado? As respostas para essas perguntas não importavam para mim. O que ninguém sabe é que, durante esse tempo inconsciente, meu subconsciente estava funcionando perfeitamente. Tive uma experiência que jamais imaginei. Não foi de todo ruim esse risco, não era minha hora de morrer. Sabia agora o motivo de minha existência. Como que não entendia antes? Não sofro mais. Eu perdoei. Libertei-me do mal que me possuía. Eu agora sou o Inácio.
Continua…
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